Por Jung e M.O.Mebes
O Tarot é um baralho de cartas misterioso e de origem desconhecida.
Tendo, pelo menos, seis séculos de existência, é
o antepassado direto das nossas modernas cartas de jogar. No correr
das gerações, as figuras pintadas nessas cartas desfrutam
de muitas encarnações. Testemunho da vitalidade e da
sabedoria do antigo Tarot é o fato de que, embora tenha gerado
um filho tão ativo quanto as cartas de jogar que usamos hoje
em dia, o baralho-mae não se aposentou.
Na Europa Central, as estranhas cartas do Tarot têm permanecido
em uso constante em jogos e na cartomancia. Agora, na América,
o Tarot veio repentinamente à tona da consciência pública.
Como as figuras enigmáticas que surgem de repente, inesperadamente,
em nossos sonhos os personagens do tarot parecem estar gritando para
nos chamar a atenção.
Erupções dramáticas desse gênero usualmente
siginificam que aspectos negligenciados de nós mesmos buscam
reconhecimento. Como as figuras dos nossos sonhos, sem dúvida,
as personalidades do tarot introduziram-se em nossa auto-satisfaçao
a fim de trazer-nos mensagens de grande importância; mas o homem
moderno, imerso como está numa cultura verbal, acha a linguagem
pictória não-verbal do Tarot difícil de decifrar.
Uma viagem pelas cartas do Tarot, primeiro que tudo, é uma
viagem às nossas próprias profundezas. O que quer que
encontremos ao longo do caminho é, au fond, um aspecto do nosso
mais profundo e elevado eu. Pois as cartas do Tarot , que nasceram
num tempo em que o misterioso e o irracional tinhas mais realidade
do que hoje, trazem-nos uma ponte efetiva para a sabedoria ancestral
do nosso eu mais íntimo. E uma nova sabedoria é a grande
necessidade do nosso tempo - sabedoria para resolver nossos problemas
pessoais e sabedoria para encontrar respostas criativas às
perguntas universais que a todos nos confrontam.
Como as nossas cartas modernas, o baralho do Tarot tem quatro naipes
com dez "pintas" ou cartas numeradas em cada um deles. Os
quatro naipes do Tarot são chamados bastões, taças,
espadas e moedas, que evoluíram para dar os nossos naipes atuais
de paus, copas, espadas e ouros. No baralho do Tarot, cada naipe tem
quatro cartas "da corte"; o Rei, a Rainha, o Valete e o
Cavaleiro. Este último, jovem e ousado ginete montado num cavalo
fogoso, desapareceu misteriosamente das cartas de baralho atuais.
o haver este síbolo de propósito sincero, de cortesia
e de coragem desaparecido das nossas cartas de jogar atuais pode indicar
uma falta dessas qualidades em nossa psicologia atual. O Cavaleiro
é importante porque precisaremos da sua coragem e do seu espírito
de indagação se quisermos que a nossa jornada seja bem
sucedida.
Na existência
de um homem inteligente dois fatores possuem importância primordial:
o grau CONSCIÊNCIA DA VIDA e o grau de PODER DE REALIZAÇAO
. A aspiração, à assim chamada "INICIAÇÃO"
é, na sua essência, a busca um ou outro destes elementos
e, mais freqüentemente , dos dois.
A iniciação está baseada no domínio dos
ARCANOS ou MISTÉRIOS. Aqui convem explicar a diferença
de significado dos três termos: "SECRETUM ", "ARCANUM"
e "MISTERYUM".
SECRETUM é aquilo que alguns seres humanos, seguindo uma fantasia
ou motivo da vida cotidiana, decidiram esconder dos outros.
ARCANUM é um mistério cujo conhecimento é indispensável
para compreender um grupo determinado de fatos, leis ou princípios.
Sem o conhecimento do "Arcanum", nada pode ser feito no
momento que surge a necessidade de tal compreensão. "Arcanum"
é um mistério acessível a uma inteligência
suficientemente diligente nessa esfera. No seu sentido amplo, o termo
"Arcanum" inclui toda a ciência teórica, referente
a qualquer atividade prática em determinado campo.
MYSTERIUM é todo um sistema harmonioso de arcanos e segredos
sintetizado por uma determinada escola e constituindo a base de sua
cosmovisão e o critério de sua atividade.
A nós chegou o grandioso momumento do simbolismo das escolas
egípcias em que os três tipos de apresentações
simbólicas se juntam em um baralho, mais conhecido como "TAROT
DOS BOÊMIOS" e composto de 78 cartas coloridas. Estas cartas
representam os antigos ARCANOS. Constam de 22 Arcanos Maiores e 56
Arcanos Menores.
A cada carta, de um ou outro modo, corresponde um valor numérico.
De acordo com a tradição, essas figuras eram colocadas
nas paredes de galerias subterrâneas , onde o neófilo
penetrava após ter passado por uma série completa de
provas. O Tarot é considerado um esquema de cosmovisao dos
Iniciados da Antiguidade.
É certo que cada povo tem sua própria visão do
mundo expressa pelo seu idioma. Se ele faz uso da escrita, os elementos
da linguagem são também apresentados no alfabeto.
Conseqüentemente, o Tarot pode ser considerado como um alfabeto
iniciático. As cartas-lâminas representam as letras desse
alfabeto. Os detalhes das lâminas e os matizes de suas cores,
constituem comentários complementares a essas letras.
Os 22 Arcanos Maiores correspondem aos 22 hieróglifos do alfabeto
hebraico. A cada letra desse alfabeto é atribuído um
valor numérico definido e é nessa ordem numérica
que vamos analisar os Arcanos, tendo em mente a divisa da raça
branca: "Tudo por número, medida e peso".